domingo, novembro 06, 2011

✽ Falha de Comunicação

Nesta vida estamos sentenciados à falha de comunicação. A vida e nossas relações humanas são grandes telefones-sem-fio. Só da mente pra língua já se dá catastrófica distorção da mensagem original - porque não coube em palavras o que se pensou.

O que a gente é e quer dizer nem sempre traduz acuradamente na cachola do outro. Quanto mais plural de sentimento, tom e profundidade for o que se quer dizer, mais pobre e aclichezado vai chegar à percepção do ouvinte. É um carma.
Não sabe o que é frustração aquele que não passou pela situação de querer contar a maior e mais complexa revelação do ser e acabar por se derrotar no sentimento de impotência em face dos limites da linguagem.
Sei o que quero dizer, mas não consigo.
A minha mente pensou numa imensidão de nuances significativas, mas as palavras me deixaram na mão. 
Há vezes que não há palavras no mundo que deem nome ao que se quer falar. O que se quer falar é sempre tão maior do que se pode lançar mão pra exprimir. Substância é sempre tão maior que a forma.
Não tem coisa mais besta que se discutir se tal tom na parede é vermelho ou é laranja. Um individuo defende que o nome da cor é um, outro defende que o nome da cor é outra. Oras bolas, não estão vendo ambos uma mesma coisa? Não é a realidade, pra ambos, a mesma? Afinal, aprender o nome das coisas não é um processo orgânico. Orgânico é enxergar. Dar nome é formalizar. Nome é só nome. O que importa é a substância do que se dá nome. Coisa mais besta é se estapear pelo nome. Eu me estapeio mesmo é pela realidade; ela sim vale a pena. A realidade não tem nome; apenas fragmentos dela têm nome. Esses fragmentos formam um quebra cabeça esburacado e torto. Essa é a linguagem.

Sempre iremos querer dizer algo que nunca virá a ser concebido. Ficarão ali recalcadas as mensagens da mente que não vieram a ser. Ficarão jogados ao canto, abortados, os significados embrionários que não se pôde conceber. É uma metáfora cruel porque muito cruel é estar condenado a significâncias rasas. Sempre haverá uma imensidão de sentido e existência - reflexões, percepções, crenças - dentro de nós que ninguém mais prescrutará. E isso é triste. É existir sem existir - é existir só uma parcela narrável de nós.
Por isso é trabalho tão árduo e digno manejar palavras. Labutar palavras. Trabucar palavras. Quanto mais trabalhada a construção linguística, menor poderá ser o abismo entre signo e substância. Quem ama as palavras é um desesperado por ser compreendido. É um alucinado, um encarniçado por dizer.

O problema é que a gente não é uma simples cor - que todos enxergam igual, mesmo que venham a divergir no nome. Quando dois olham pra nós, nem sempre ambos veem a mesma coisa. Como eu queria ser cor, absoluta e unânime! Mas cor é concreta, a gente não. A gente é invisível. O que é a realidade, afinal?
Por isso é que digo que a vida é uma grande falha de comunicação. Cada ser humano, em sua complexa existência, sofre a cada milésimo de segundo da sua vida uma trágica falha de comunicação com os outros, com o mundo e consigo mesmo. Ele está constantemente a trair sua complexidade; diminuí-la a signos comuns. Existir é tão difícil. Existir é uma explosão de significados - que são tão difíceis de identificar, quanto mais nomear. Daí a gente fica assim todo meio largado, desnomeado.
Não é possível dar nome pra tudo que nos ocorre à existência; daí ela fica ao léu, desordenada. Só as palavras trazem ordem ao caos protuberante de ser e realizar. E quando elas nos deixam na mão? Estou me repetindo, eu sei. Não consigo ser coerente quando estou desvairada.
Só a gente mesmo conhece as estradas da nossa alma; 
Só a gente entende a nossa bagunça e seus motivos. Por isso que nossa existência nunca é completamente compreendida pelo outro. Ninguém conhece a gente do avesso, lá bem dentro do nosso interior. E por viver a vida sem que a gente compartilhe o de mais insondável que há em nós, parece que a gastamos ao passo de meias palavras; fadados a nunca fazer completo sentido. Como eu disse, é como só existir um pedaço de nós - o resto ignora-se porque não tem nome pra ele. Só nos damos conta do que tem nome.
Eu sou um grande desentendimento. Ninguém me entendeu. Tudo o que sou jamais chegará à completa compreensão de um semelhante. (Nenhum de nós nos mostraremos plenos a nenhum de nós.) Só Deus mesmo que viu minha alma. E é por isso que ele é Deus. Só com ele eu não me desentendo. É por isso que ele é Deus.

Tem gente que passa a vida inteira sem falar do que sente, abrir o peito, compartilhar do que tem por dentro. Eu, por minha vez, estou a todo tempo tentando atravessar a espessa e artificial faxada das pessoas e seus comportamentos. Quero logo saber o que está no profundo; tenho urgência de vencer o ralo; tenho urgência de intimidade. Sempre acho que o teatro social não é natural; que a pessoa está disfarçando seus instintos mais essenciais; que como eu ela está à espera de revelar seu coração. Mas acho que a maioria das pessoas, na verdade, são roboticamente naturais em sua desenvoltura social. Já assimilaram com tanta obediência as convenções interacionais que as exercem sem pestanejar. Sou só eu mesmo que de tanto cortejar a solidão virei meio bicho do mato. Sou uma atriz e tanto. Sei interpretar quem eu sou todo dia bem direitinho; faço meu papel de ser com diligência. Não desperto desconfiança.

Uma coisa é verdade: quem quer falar das coisas do sensível, da percepção à flor da pele, do imaginário livre, que fique pronto pra não fazer sentido na cabeça dos outros. Acho que isso na verdade é que é a loucura; ou alguma certa classificação dela - não fazer sentido no mundo do outro.
Às vezes choro porque a vida é overwhelming, não consigo descrevê-la, capturá-la, absorvê-la nessa mera alma humana. A vida mesmo não é humana, só podia ser divina. A existência me escapa à razão; não sei o que estou fazendo, não tenho manual, as demarcações são instáveis, embaçadas, facilmente deslocadas, dependentes de um grupo social delimitar. Quer dizer, quem diz quem a gente tem que ser é mais um bando de desconjurado na vida, tentando encontrar identidade e direção tanto quanto a gente. Que ironia!
Pois bem, pode anotar na prancheta aí, doutor, que eu vejo o mundo como poucos veem. A sociedade me é estranha e agressiva, não entendo pra quê tanta maldade, amargura, perversão. A vida às vezes é estranha. A morte é estranha. Talvez a vida após a morte seja estranha. Não! Depois da morte tudo fará sentido! Verei a Deus como ele é, e serei completo! Brada o meu coração com viva esperança.


Não há saídas para o limbo das meias palavras. Talvez um texto bem viajado de Clarice faça fazer sentido algo de profundo. Mas quem é que a entende? São poucos os que realmente a entenderam. Popular mesmo viram as frases banais (que na verdade não foram banais; qualquer clichê vindo de Clarice, desconfie). Quem entendeu o que Clarice escreveu viu a alma dela: alguém completa e urgentemente desesperada pelo sentido da vida, pelo sentido de ser. Enxergou no mundo o que ninguém mais enxergou. Fez das letras um breve alívio da pressão grave e doída de existir à perguntar o que afinal a vida é. Acho que eu vi um pouco da alma de Clarice. E vi a minha na dela.

Talvez a angústia pulsante de enriquecer de significado o ser seja só pra essa vida. Céu mesmo seria aquele lugar em que a linguagem não tem limite. Imagine! Cores, sons, signos diversos evocariam as mais indizíveis sensações e mensagens na imaginação; sem barreiras! Quero ir pra esse céu logo.
Mas por enquanto fico predizendo o céu fazendo prosa poética. É por isso que escrevo; pra ter vislumbres fugazes do céu linguístico que eu inventei e torço pra ser real. Enquanto isso preciso acreditar que alguém vai ler o que escrevi e me entender; vai visitar meu interior por alguns parágrafos; vai se fazer uma pergunta existencial qualquer depois de decifrar meus versos. Talvez se eu passar a vida toda a escrever, ao final dela, assim bem num final derradeiro, eu consiga dar um curto e comedido suspiro de satisfação de ter dito alguma coisa de profundo.

domingo, outubro 30, 2011

✽ Pra pensar na vida

Eu vivo pensando na vida. E quanto mais penso na vida, mais percebo o quanto as pessoas não pensam na vida. Não estou dentro da cabeça de todo mundo, eu sei, são conclusões que eu tiro por meio da arte de observar; às vezes mais observo que vivo, então talvez eu tenha alguma conclusão razoável da coisa.
Sinceramente acho que tem gente que nem sabe que existe. Até entendo que toma tempo pra gente perceber que é, mas receio que muitos morrem sem sequer tê-lo feito. Bastaria somente perguntar quem sou eu?, mas bem perguntado mesmo, com sede de saber a resposta, que aí já se daria conta da existência.

É engraçado que quando criança não se pensa na vida. A gente nasce e só muito tempo depois a gente se dá conta que existe. Criança não sabe que existe, ela apenas existe. Mas eu quando criança sabia que existia. Afligiam-me os pensamentos na mente infantil diante de tamanha revelação - eu sou. Um dia, muito criança, cheguei à minha mãe e perguntei expectante "Como é que a gente aprende nosso nome? Você me chamou num canto um dia e me noticiou 'seu nome é Laura'?". Ela mexeu as sobrancelhas (essa parte é conto) e respondeu "Não, filha. Desde sempre te chamei pelo nome e então você cresceu sabendo que se chama Laura". Era o que eu havia suspeitado. "Humm", ponderei na mente infantil. Não obtive o que estava na esperança de encontrar: o dia em que me haviam dito quem eu sou.

Acho que é por isso que é tão turvo existir. Ninguém veio pra gente e contou quem a gente era, assim, num grande dia fatídico que lhe dão identidade. A gente é, vai sendo, e seremos. Em meio a ser a gente vai tirando a conclusão de quem se seja. Me sou.

Embrulha-me o estômago quando ouço aquele conselho seja você mesmo.
Entendo a boa intenção de quem lhe faz uso, mas a verdade é que essa frase me dá arrepio gelado na espinha da lógica existencial. É só ouvi-la que logo me surge a crítica irônica no canto da mente... esse conselho não resolve ninguém (como eu), só complica; traz mesmo é mais indagação, mais inquietude no peito, mais problemática que solução. Seja você mesmo. Ser eu mesmo? Hum. Ser eu, mesmo? Quem mesmo sou? Eu não tenho definição registrada na biblioteca nacional, carta autenticada em cartório, nem papel oficial assinado pelo presidente do mundo dizendo quem sou. Só o que tenho sou a mim mesmo. Eu me tenho e tiro conclusões. Serve?
Ninguém tem pra si perfeita e completa descrição de quem se seja, mesmo talvez achando que sim; os que acham que sim não se exercitam na prática de reflexões existenciais. É por isso que este conselho me causa até riso de desgraça! Escarneço do meu próprio infortúnio. "Seja você mesmo". Eu mesmo quem?! Eu mesmo não existe! Quer dizer, ele não tem muita certeza se existe, ele é meio incerto e duvidoso... por vezes se firma, por vezes debanda pra dubiedade. As demarcações de mim são frágeis e embaçadas. Quem é que eu vou ser quando tiver que ser "eu mesma"? Posso inventá-la?


E então? Quem é que me responde se eu posso inventá-la? Deus? É, acho que é isso que Deus fez mesmo; me deu permissão pra eu me inventar e fui lá e fiz. Quer dizer, eu não fiz, eu vou fazendo, vou me inventando. O problema disso é que fico a tirar e pôr, lá e cá, peças frouxas desse meu invento. Cada dia nasce um desejo de invenção nova; acordo pela manhã e decido quem ser. Ué, não tem carta no cartório. Reinvento-me.

Isso tudo é o faniquito que me dá no peito arfante pela vida. Mas não reclamo, tenho orgulho desse meu estado de questão. É preciso bravura pra escancarar a alma perguntante. Maior bravura que essa só a que se tem pra se permitir perguntar.








"Se tivesse a tolice de se perguntar 'quem sou eu?' cairia estatelada em cheio no chão. É que 'quem sou eu?' provoca necessidade. E como satisfazer a necessidade? Quem se indaga é incompleto.
 (pp.30, Clarice Lispector, A Hora da Estrela, Lisboa:Relógio d'Água)

sexta-feira, outubro 14, 2011

✽ Eu preciso sentir saudade

Eu vou ficar aqui, amor
Eu vou ficar aqui até me chamarem
Porque eu preciso da solidão
Eu não sei viver sempre acompanhada
Eu preciso sentir saudade,
Eu preciso sentir na pele a falta.
Eu vou ficar aqui, amor
Até que seja hora de retornar
Porque eu preciso mesmo me atrasar,
Eu não sei viver com hora marcada
Eu preciso ser desavisada
Eu preciso descansar a alma.
Diga a todos que estou aqui, amor
E que talvez eu até reapareça
Trazendo no peito a alegria espessa
De ter passado um tempo só.


sexta-feira, outubro 07, 2011

✽ Devagar e por mais tempo

É difícil estar apaixonado.
Eu não disse que é difícil ficar apaixonado, muito menos que é difícil que eu esteja apaixonada. Digo que é difícil estar, permanecer, ficar em estado de paixão. Não há nada na vida tão espantadiço quanto a tal. O que não quer dizer que eu não esteja apaixonada, ó não, de forma alguma. Eu sempre me viro pra achar algo pelo o que me apaixonar; ora um fragmento de poesia, ora um arranjo musical, ora uma fotografia, ora um estranho na rua, ora a ideia de observar os estranhos na rua, ora uma constatação empírica da existência, ora por mim mesma, ora pela ideia de apaixonar-se... Por essa última eu tenho estranha e vívida flama. A penúltima quase sempre termina em desastre.
Minha paixão está por todo lugar e fragmentada; seus pedaços se espalham pela minha existência sensível. E não pense que quero catá-los, quero mesmo é que se espatifem pela vida. É todo meu o prazer de sua completude fugaz.

Mas o que estava dizendo é que é difícil agarrar a paixão. Ela é sempre um vulto que nos visita com êxtase e excitação e vai embora assim, bem quando a gente achava que tinha encontrado o que queria. É difícil estar apaixonada, esse estado volúvel e incapturável de ser. Deve ser assim porque quando se apaixona quer-se logo consumir a paixão, comer a paixão, digerir e cuspir o resto imprestável da paixão. E pelos três últimos paixão me refiro ao objeto dela. Quer-se logo ser um com o alvo de intenso sentimento. Estou longe de estar falando do ato físico entre dois humanos. Refiro-me a se tornar um com a canção, com a poesia, com a alma (e não o corpo) de outra pessoa. O apaixonado tem sede por fusão. É como fogo: vai consumindo com voracidade o pavio o sentimento quente rumo à combustão total. Ao fim sobrará apenas carvônica carcaça.
É como a música que se ouve até saturar; até já não mais acelerar o coração quando se alcança o ré com sétima aumentada; ou seja, esvaiu-se a paixão. Pior que deixar de se enfervecer com a música é depois se enjoar dela - o que excitava agora enoja. Cruel metamorfose da paixão. É a lagarta e a borboleta ao avesso.

A paixão é débil de autocontrole. Vai louca e descontrolada rumo ao seu fim. Tem tanta vontade e pressa de viver que acaba chegando cedo na morte. De tão veloz é fugidia. Coisa difícil é ter a paixão pra si, só se pode alugá-la. Se a paixão não fosse alugada, seria propriedade de alguém, daí deixaria de ser paixão, seria amor.
Só é paixão se estiver escorrendo por entre duas mãos que fazem conchinha, se apertando pra não deixar escoar por entre as mínimas frestas seu líquido. Todos sabem que o desespero de contê-la é em vão, aliás, possivelmente assim lha escapará mais rápido.

Pois bem, tem que amar devagarinho pra não espantar o esto. Devagar e sempre. Ou ao menos, devagar e por mais tempo; porque a paixão nunca será sempre. Com a exceção do instante - no instante ela é pra sempre. Aquele soneto do Vinícius de Moraes.
Pra fazer durar tem que quase não consumir. Vai-se nas poucas doses que quem sabe não dure por um tanto que tenha sensação de sempre. Quem se dispõe a poupar sua paixão para que ela dure faz verdadeiro sacrifício. Não há maior demonstração de afeto. E é aí - acabou-se - que deixa de ser paixão, pois por haver sacrifício vira amor. É isso que o amor é: sacrifício. A paixão ficou lá atrás, antes da abnegação de si mesmo. Foi incapaz de fazê-lo.

E até que ao final desse texto me convenci de contagotar o sentimento. Quero sim, que fiquem por aí espalhados os fragmentos da minha paixão, mas que seja inteiro e lento o meu amor.


sexta-feira, setembro 23, 2011

✽ Vício

Escrever um texto é como manipular drogas num laboratório. Tira e põe as palavras, uma com outra, outra com uma. Sinônimos, antônimos, termômetros. Com cautela se experimenta as palavras, as mede, as dosa, as testa. Até que se chega à combinação ideal. O resultado? Uma explosão de êxtase àquele que a consome.

Vício de escrita, é isso que eu tenho.

quinta-feira, setembro 22, 2011

✽ Metapoesia


Não consigo me libertar da metapoesia. Toda vez que me ponho frente ao manuscrito e a pena (mentira, frente ao laptop), não me sai nada além do discurso sobre elaborar o discurso.
Acho que é uma questão de coragem. Falta-me heroísmo pra desbravar outros cantos da alma. Fico nessa sina cômoda de só falar de metalinguagem, evito que me abordem com violência os outros ímpetos da criação. Temo a ruptura brusca dessa inércia mansa e boa.

Que diachos! Me dá preguiça confrontar-me, toma tempo e empenho de achar logo o antídoto pra ferida que se abriu por conta da exposição da face. É como ter lentes de ver cada poro da pele. Ninguém quer isso, nem na foto nem na poesia. Às cucuias o confronto, já me cansa bastante vencer as distrações.

Se começo a escrever e me distraio com alguma outra coisa (o que não é difícil quando se escreve no laptop, online), fica à espera no canto da mente a caixa aberta da imaginação. Bem lá na esquina criativa, por entre os quatro lados da caixa vê-se pulando alguns brilhos de ideia querendo vir a se realizar. Saltitam afoitas as sugestões. São como bichinhos com gemidos agudos, saltando por atenção, querendo ser escolhidos pra se tornar matéria. São chatos, por isso que às vezes vencem as distrações.

Agora inventei uma coisa nova. Sento-me pra escrever e enfio plugs de silicone pelo ouvido, nenhum ruído me invade a audição, fico completamente surda. Surda do externo, veja bem. Calo o mundo à volta para ouvir bem a canção que chia no peito uma poesia. É preciso silenciar as distrações pra encontrar o som que vem de dentro. Inventei isso, está funcionando. Uns criam ao som de música, eu crio à mudez tediosa e senil do silêncio, por vezes brandamente invadida pela minha respiração e, por vezes, quando me assanho com as letras, o pulsar do coração. Tu-tum, tu-tum, tu-tum... se ouvir bem, é o ritmo da vida, não tem como algo lhe inspirar mais que as batidas do órgão vital.

Daí já não sei dizer se é mais poética a distração ou a poesia.

sexta-feira, setembro 09, 2011

✽ Essa gente, o que faz?

Estou constantemente alimentando os glossários da mente a catalogar nomes e significados das coisas do mundo na cabeça. Não quero que me fuja nenhuma acepção. Isso vem da minha mania de controle (ah! que me importa! vou contar-lhes), que me faz tudo querer mapear e entender. Me dá nos nervos, na verdade, mas por vezes considero-lhe virtude... Na maioridade das ocasiões, do controle socorrem-me as palavras - ou as minhas, ou as de outrem. Pra falar a verdade, ultimamente as dos outros me têm sido mais hospitaleiras. Mas o que importa mesmo é viver da letra.

Não conheço outra maneira de viver senão essa em que se debruça sobre o belo pra lhe trazer pra perto e o possuir pelo discurso. Se existe outro jeito de ser, me diga.
Quero dizer, sei que existem, mas não seria esse o mais retumbante?

Fico pensando... Não entendo essa gente que não escreve ou, sei lá, inventa alguma arte ou arranjo de palavras pra subsistir à existência. Essa gente, o que faz? Quais são seus métodos de expurgação? É nos rascunhos que eu descanso de ser eu.
Pra onde vão seus entulhos e bagaças? Pra onde escorrem as lavas de seu coração vulcânicoª? Ou será que têm coração comum? Explica-me, por favor, essa gente que não se deita sobre indagações, têm viver ralo ou somente um desafeto pelas coisas sensíveis? Bem, eu diria que ter desafeto por qualquer coisa da ordem do sensível é viver empobrecido.

Às vezes fico me perguntando, devo confessar, vivo a me perguntar. E me pergunto tanto, desse tipo de pergunta que só se responde no diâmetro da mente alheia, que quase já não sei mais ser orgânica no agir. Transbordo tanto em lucidez que a sobriedade me faz mal, me constrange o viver social. Perco a teatralidade de cumprir com as convenções do convívio humano, a hiper-reflexão me rouba a naturalidade. Essa coisa de ser existencial.
Esse viver exagerado e intenso nos consome mesmo são as entranhas. É turbilhão, furacão, remoinho bem aqui dentro do estômago vazio. Só não é vazio se eu como a letra.

 É por isso que me pergunto, o que faz essa gente que não vive de letra?



ª"Coração vulcânio", termo usado pela Mallu Magalhães em sua canção "Cena", a qual é tema desse blog que vos fala exibe a página. Mallu é sem dúvida dona de muitas palavras que já me abrigaram e alimentaram.

quinta-feira, setembro 08, 2011

✽ A quem pertence a poesia?

Pra poetizar é preciso não ter medo de rejeição.

Repito, que pra poetizar é preciso não ter medo de rejeição. Tem que dar tudo o que tem, e o que se acha que tem, na folha virgem. Perde-se o orgulho pra dissertar com os punhos.
Não é por orgulho que se adorna o verso, é por amor. E o amor não teme o abandono, ele tudo suporta com brio até que seja retribuído.

A retribuição que espera o poema está em o leitor ter prazer na explosão dos significados, dos frames, das cenas, dos universos que se-lhe abriram no canto da imaginação ao ler a obra. Não tem outra forma de correspondê-lo. Autor e leitor são um no deleitar-se dos signos, não se sabe quando um começa e outro termina. Que me importa sabê-lo, também, se estou convencida de que o texto não veio do escritor tanto quanto não veio do leitor. O texto é entidade externa, à parte dos homens, que o poeta foi e capturou e assinou embaixo. O que separa autor e receptor é que o primeiro seduziu a inspiração primeiro. E você sabe, a inspiração é aquele braço que puxa o belo concreto no vácuo e entrega em mãos ao escritor.

Quase tem inveja do poeta o leitor que lhe leu o bom texto. Queria mesmo era ter escrito aquilo antes de quem o fez, acha que tal composição podia ter-lhe brotado da própria alma. E de tanto querer, até passa a achar que o poema (ou prosa, ou crônica, ou canção) na verdade lhe pertence. E de fato está certo, pois pertencer não é só pro autor - o que ama a poesia também a possui. Diria até que quem a odeia também a possui. A ela dedica tão intenso sentimento, o ódio, que é seu mérito possuí-la também.

É por isso que pra poetizar é preciso não ter medo de rejeição. Até no que a rejeitar fez sentir alguma coisa.

sábado, setembro 03, 2011

✽ Peça por peça

O que é a verdadeira nudez, afinal, senão a do pensamento?

Despindo-se lentamente vai o poeta, palavra por palavra.


quinta-feira, setembro 01, 2011

✽ Põe-se à mesa

Sento sobre a cama e me ponho a escrever.
Por vezes fico tentando diminuir esse abismo fatal que existe entre o que se quer dizer no canto fértil da mente e o que se concretiza na linguagem (como já disse aqui antes). E digo que é fatal porque basta um passo falso que pode matar-se o primor do verso. Escolher os vocábulos é tarefa meticulosa e detalhista.

Nada se pode esconder quando se poetiza, põe-se à mesa toda sorte de compunção. Vasculha-se bem dentro do peito o que se tem de mais indizível, e ao narrar o que há em si de inenarrável, acha-se paz e realização. Acredite, o arroubo sublime que se encontra no verso acabado faz valer a pena a nudez da alma. Enfrenta-se com brio o escancarar da intimidade.

Ora, justamente por escancarar-se a nudez que se encobre o verso com a obscuridade que os trunfos literários ofertam. É por isso que se esculpe com destreza as letras, motivo nenhum senão reivindicar para si um pouco de privacidade. E por privacidade quero dizer "um compartilhar mais exclusivo", porque sempre tem aquele leitor que lhe arranca o lençol logo na primeira estrofe. São aqueles que consomem o texto, se nutrem de cada sentença. Não é qualquer um que se dá a receber a prosa de outrem e, saiba, o autor tem prazer na seletividade de seus leitores (ele quer aquele que se explode de gosto na obra). Tem gente que tem alma gêmea da nossa, e acaba-se por descobrir quando se lê o que o outro disse. Dá-se um encontro.
E a gente vai se afinando, um na palavra do outro, um na nudez vista do outro.

Mas devo dizer, até no que se expõe há uma autocensura, é claro. Não ia querer afugentar o leitor com as minhas bagaças. Mas para estas também existem os floreios e adornos poéticos, desvia a atenção. É isso! É isso que é poesia: bagaça adornada! Não me leve a mal, estou lhe espantando, não estou?

Pois bem (pigarreando séria), autocensura às vezes convém.

quarta-feira, agosto 31, 2011

✽ Inspiração é canção perfeita

Não é à toa que na poesia grega louva-se tanto as "musas" inspiradoras que sussurram as histórias épicas ao pé do ouvido do autor. Valimento nenhum tem o que escreve, pois apenas transcreve o que lhe cantaram as musas. Seu único mérito está em ser íntimo dessas criaturas, capaz de ouvir e decifrar o que lhe dizem sobre o mundo e os homens.
É verdade, estudei na faculdade.

O que quero dizer é, não é ao acaso que, na criação dos homens, são chamadas deusas aquelas que provêm a inspiração. Essa aí, lhe digo, é uma das mais traiçoeiras parceiras do poeta. Quando chega a ele sem reservas, não há limites, ou melhor, não há abismos entre o que se quer dizer no canto fértil da mente e o que se concretiza na linguagem. Quando dançam ela e o poeta, luz se dá num maior elo de perfeição literária - a substância e seu nome no mundo. Não há maior nível de sincronia que este na vida.

Mas como disse, a inspiração é traiçoeira, vem quando quer e sai como quiser. Não se pode dominá-la, pois se tentar fazê-lo ela vai-se embora de vez e se transforma em dor de cabeça. E não queira orquestrar as letras sem canção, porque é isso que a inspiração é: canção perfeita. Mas o problema é que ela é canção perfeita no vácuo, no mundo, em algum lugar no cosmo, vista e sonada mas que ninguém viu nem ouviu. Captura a perfeição quem valsa com essa dama.

Ao que resta ao poeta aproveitar cada corrente de influxo criativo que lhe surge pelas vias do processo produtivo. Não sobram-lhe muitas opções além de lançar-se à resignação. Ele vive na conformidade de saber que a inspiração por vezes lhe trairá.
Não se importa, na verdade, porque até a deslealdade das musas vira matéria de sua composição. Viva a metapoesia.

terça-feira, agosto 30, 2011

✽ Em defesa de uma fonte ilegível

*Texto escrito a respeito da primeira fonte utilizada no blog (figura abaixo), a mesma usada nos títulos dos posts e das barra direita.




Meu amigo Felipe veio zelosamente, sem querer ser levado a mal, me aconselhar uma mudança de fonte para o blog. Esta fonte mesmo que você agora fixa os olhos ao decifrar esse meu texto.
"Está lindo, mas exige um certo esforço pra ler", resmungou. Concordei.


E expliquei-lhe minhas razões.
Toda vez que passo pelo blog eu lamento a letra ser assim, tão bonita quanto ilegível. Mas é um lamento daquele tipo em que se dá com os ombros como que dizendo "o que tenho eu com isso? o que posso fazer se a vida escolheu assim?".
Depois também me dei ao trabalho de convencer-me de que a não facilidade de leitura pode ser um acessório desconstrutivista às minhas sentenças, se é que faz sentido. Sei lá, é uma forma de quebrar a cadência da leitura mesmo, exigir mais devoção ao ato de ler. Com suor se escreveu, com suor se lerá.


Ora, o suor do leitor é moeda em alta, glorifica a obra. Todo poeta que se preza adereça os versos com um pouco de encravo. Afinal, o que são as palavras difíceis senão um atavio de ilegibilidade à composição? Porque o que o verso tem de obscuro, ele tem de bonito (nem sempre, estou em defesa dos meus versos, é por eles que advogo).


Além do mais, fico com pena dessa pobre fonte, que por não dar conta de ser boa fonte, fica rejeitada pelos demais. Como não me comover ao apelo de uma caridade? Como não ser movida a acolhê-la de uma vez por todas, encerrando-lhe a solidão? Nada e ninguém ficará desprezado enquanto eu puder afagá-lo. E que maior acolhimento pode ser maior que a chance de veicular palavras que a gente deu à luz no labor das letras?


Fonte, você é bem-aventurada! Vem suportar os meus versos!


✽ Descarte

Possuo o que nomeio.

Por isso nomeio os anseios do peito. Para tomá-los pra mim e então descartá-los na canção.

✽ Tantas frases no mundo pra se amar

Essa semana li um post no blog da Mallu e resolvi comentar. Recomendei-lhe a canção "Imagination" da Bethany Dillon, cuja letra e música são uma delícia.
Mallu me deu a honra de sua resposta.

"Laura! Muito obrigada pela dica!
Adorei. Adorei a frase ”could you look at me with some imagination?".
Beijnhos e boas viagens filosóficas!".


Em resposta, não resisti à sentença dada por ela. "Boas viagens filosóficas". Sentenciada estava ao limbo da criação. E escrevi o que vem em seguida.

...

Eu também amo essa frase. Essa frase e muitas outras frases. Tantas frases no mundo pra se amar. Como não amar o árduo e engenhoso compor das palavras? Como não se deleitar no custoso esculpir das letras? Basta um verso de poesia que a alma se liberta num súbito fugaz de satisfação. Ah, o alívio das palavras bem domadas pra desabafar o peito amuado. Que beleza há no nomear dos suspiros do seio.

A palavra, essa rocha rebelde, resiste firmemente às mãos do poeta. Escapam-lhe entre os dedos os vocábulos... Ah, essa pedra dura que me dói a ponta do lápis! Se a subjugo, se expulsa de mim o engasgue indito. Quanta beleza calada na extremidade do grafite. Se a subjugo, insisto, se aquieta no fundo da emoção a profusão de existir - e que existência intensa essa que me cansa os rascunhos.
Fico cansada de engasgar sentimentos de mundo e logo me socorrem os lexemas.

Libertam-me as palavras.

Tal momento de libertação é tão eterno quanto o matar da sede com uma dose d'água. Por isso não há de cessar o arquitetar das palavras (e das melodias, e das cores, e das formas, das texturas, das loucuras) pra aliviar o coração. Pois o que é a arte senão o socorro dos doidos? Deixe-me combinar duas coisas bonitas pra me espantar os males. Dicionário, esse mar de essência.





*Este texto é uma extensão do comentário criado pro blog da Mallu Magalhães, http://www.mallumusic.com.br

segunda-feira, agosto 29, 2011

✽ Maria Luiza de Arruda Botelho Pereira de Magalhães


Maria,
A vida quando sorri
Resta é fazer melodia,
Infinitamente melhor, é
A alma exposta que a sufocada.

Loucura mesmo é cantar pra estranhos
Uma canção que nada tem de pública
Imitar cara de desavisada
Zelosamente a tocar as cordas
A escancarar o amor privado.

De todas as coisas que embelezam a vida
Esmero e coragem são as mais lindas.

Assim, Maria
Reclina o braço sobre o violão
Responde ao pleito da sua emoção
Ungindo a música com sentimento,
Deitando a letra sobre o sofrimento
A registrar o belo da vida.

Basta um verso de linda canção
O coração já se alivia todo,
Toda profusão de viver à flor da pele
Encontra-se agora na estrofe e coro,
Levando a fadiga do viver intenso,
Hasteando agora paz pro espírito
O resultado da composição.

Para que as notas não lhe zombem
É preciso coragem pra abrir o peito,
Revelar a frígida imaginação
E sussurrar no canto estreito
Imensurável satisfação no verso.
Recordar é dever do apegado
Aquele que tudo registra, e

De registrar perde até o momento
E se compraz em reviver o pranto.

Maria,
A beleza não é tão barata
Gastam-se lágrimas e solidão
À maestria da composição,
Lei da vulnerabilidade.
Há de haver quem com tanta doçura
Afaga o âmago da ternura
Em semelhante modo,
Sem delongas (é o fim), a você.


*Acróstico feito a Maria Luiza Magalhães no seu aniversário de 19 anos.
Foto de Marcelo Camelo

✽ Laura

Logo de manhã vejo o sol,
A manhã, linda e radiante
Uma planta, um caracol
Roubo disso uma história interessante.
Amanhã, tenho outra história pra contar.


*Escrito por mim aos 12 ou 13 anos, pra um trabalho escolar sobre acrósticos (poemas cujos versos começam com letras que formam uma palavra).

✽ Mesmo tendo a tua essência

A poesia é como um buraco,
Um grande buraco sem fim
Seu conteúdo é o vazio,
Vazio extenso que é a poesia.
E não o digo a maldizendo,
Pois só o que digo é que é sem fim
E é profunda, densa e complexa,
Então por isso ai de mim.
Ai de mim, acho de novo
E frustrada eu me pergunto:
Como vou eu descrever
Este vazio tão profundo?
Pois mesmo tendo a tua essência,
Não te domino, ó poesia,
Tu me dominas e eu te peço:
Toma a minha melancolia.
E vou enchendo esse buraco
Que é vazio, onde tudo vai,
E os meus versos de incertezas
Neste vazio todo cai.
E então desisto acorbartada
E admito, eu fraca sou,
E mesmo assim, tudo o que tenho
A estes meus versos ainda dou.

*Escrito em setembro de 2005, aos 15 anos.

✽ Branco do meu coração

Escrevi uma poesia.
Mas não daquelas todas rimadas.
Não a fiz ao luar, ou ao som da viola,
Mas sob o sol escaldante
Que me aquece, me incomoda
Ao barulho dos carros daquela velha estrada.
Fiz dela o meu grito de liberdade,
O meu brado de vitória por tudo o que já passei,
Pois mesmo presa neste corpo
Com meu poema vou além.
Além do céu, além da dor, além da minha ortografia,
Sou levada a outro mundo onde o sol se faz amigo.
Fiz dela o meu canto
Mesmo que desafinado,
Pois as vezes se deve apreciar
E muitas vezes rir como quem zomba da vida e suas tristezas.
Ou meu canto de angústia
Das noites tenebrosas que passei ao meio dia.
Fiz dela a minha carta de amor,
Sem um destinatário.
Deixei um lugar em branco.
Branco pois não sei quem é,
branco do meu coração.
E tudo o que vivi guardei na mente,
Nas lembranças,
Pois não importa a elas que se encontrem em meus versos.
Mesmo assim os compus,
E fiz dessa poesia
Uma folha em branco.
Branco pois não sei porque,
Branco do meu coração.


*Escrito em setembro de 2005, aos 15 anos.

domingo, agosto 28, 2011

✽ Outro Dia de Chuva

Ontem no meio da tarde estava voltando pra casa a pé por uma avenida movimentada e percebi o tempo ruim. O céu foi se fechando e como que num instante as nuvens carregadas se aproximaram. Começou a chover. Em segundos a chuva virou tempestade, cada vez mais forte, tudo meio repentinamente. Sem guarda-chuva, a minha primeira reação foi me apressar a colocar a blusa de frio, prender os cabelos, apertar o passo e torcer para chegar logo em casa.

Um pingo de chuva mais grosso que o outro, e cada um deles um pouco mais gelado - aquela sensação de incômodo. Pareciam todas as pessoas na rua terem a mesma reação: todo mundo apressado, maldizendo a chuva, resfriando-se os corpos. Uma murmuração aqui, uma reclamação ali - só se falava em como a chuva estragara o dia.

Pensava então comigo se me encontrava em igual condição.

Olhei pra cima e o céu continuava muito azul. De certo depois da chuva viria um lindo arco-íris. Olhando à minha volta não achei um motivo sequer que justificasse qualquer reação mau humorada da minha parte. Pois tornei-me, ao invés de me apressar, a diminuir o passo, tirar a blusa de frio para sentir os pingos gelados direto na pele, deixar molhar... soltar o cabelo, desenbaraçá-lo com os dedos lentamente e apreciar a caminhada. Rendida ao inevitável, concluí que nada no dia podia fazê-lo mais especial do que essa chuva: ela fizera do meu dia um dia incomum.

A aventura de desviar das poças d'água me fez compania, e nenhum som me era mais familiar do que o dos carros passando rapidamente no asfalto das ruas molhadas. Ri em voz alta vezes incontáveis. Me sentia boba e completa.

Quando cheguei à escada do prédio, subi até a portaria com certa melancolia: o trajeto acabara. Ao passar pelo portão cumprimentei o porteiro com um "boa tarde" falado e rido ao mesmo tempo. Algo do tipo "Olha só para mim! Estou encharcada!". Quando subi para o apartamento a chuva já estava parando, e fui direto para a janela procurar o arco-íris. Nada o faria mais visível do que fechar meus olhos e deixar a brisa secar meu rosto:

- O arco-íris estava dentro de mim.

*Escrito no dia 10/04/2007. Revisado no dia 29/08/2011