sexta-feira, julho 20, 2012

✽ Estranha de Mim

Não sou tão delicada quanto pareço.
Bom, eu nem sei o que pareço. Não sei exatamente o que aparento ser; quase ninguém sabe. Ninguém sabe a rigor o que se é para os outros. Talvez seja essa uma longa e doída traição do ser: passar a vida toda achando que se transmite ser algo que não é o que os outros vêem em você. O alguém que você acha que é não é o alguém que os outros te veem ser. Eu sei, estou complicando um pouco, mas o que estou dizendo é que -
Nunca se sabe ao certo a impressão que a gente causa nos outros; não se sabe quem a gente é, em todos os efeitos, pro outro;
É o ponto de vista de fora, externo, que a gente nunca tem de si mesmo. Desde cedo a gente estranha o reflexo no espelho, a própria voz no gravador, os ângulos das fotografias, os vídeos caseiros. Não nos é comum nos assistirmos de fora; não vemos a nós mesmos da perspectiva externa. Quem é esse eu simultâneo a mim? - pensamos ao nos observar num vídeo.
De todos os estranhos, sou-me a maior.

Por isso afirmo, não sou delicada como pareço ser; se é que pareço ser. Não sei o que pareço, não estou externa a mim pra me assistir vivendo - repito -, apesar de ter desejado muito e até feito figa pra que isso acontecesse. Mas nunca saí do corpo. Estou tão perto de mim que não consigo ver; sou vítima de minha própria internalidade. Não sou plateia de mim. Posso até estimar, mas não sei ao certo o que transmito; eu vejo e observo às minúcias todo mundo mas não posso fazer o mesmo comigo. Que ingrato!

Mas pensando bem,
[pensar bem nos salva a alma]
acho que graças a Deus não me estou de fora a me observar. Seria uma desilusão tremenda as descobertas que faria. Prefiro mesmo é ficar nesse estado meio desavisado, irrefletido, convencido de que eu sou eu de um jeito só por dentro e por fora. Talvez se eu me visse não teria tanta coragem de advogar pelas minhas próprias causas; a gente é sempre tão mais elegante e descolado na nossa própria cabeça. Deus abençõe minha alucinação. Penso que prefiro mesmo permanecer nessa miragem pessoal.

Mas o que estava dizendo (meu Deus! que distração!) é que não sou tão delicada quanto eu estimativamente acredito parecer. Às vezes me falta mesmo é paciência pra fazer as coisas com delicadeza. Ser frágil e suave toma frieza, toma calmaria de espírito - e eu sou quente,
Você vê?