segunda-feira, abril 02, 2012

✽ Eterno Minuto de Silêncio

Minha alma se curou e calou-se a poesia. Emudeceram-se senís as dores do desemparo e fez-se quietude no ser.


[Mudo.]


Calaram-se poesia, voz e canção a fazer eterno minuto de silêncio em reverência funerária à aflição de viver. Morreu a dor e toda inspiração com ela. Não resta nada e ninguém a poetizar senão o fim do passado e o gemido desafinado que me inspirava a escrever. Metade da poesia é dor, a outra metade é eloquência. Não estou louca nem estou infeliz, estou entediada e sem conflito, e isso traz inspiração tanto quanto uma placa de cimento.

[Nenhuma.]


Se a placa de cimento caísse na gente e fizesse doer talvez daí nascesse uma poesia.
Enquanto isso descansam preguiçosos os versos dentro do peito. Por ali ficam, jogados ao léu e irresponsáveis, até que chegue uma desventura. Porque metade da poesia é desespero, e a outra metade é arquitetura. Se não tem dilema, não tem poema. A cura de mim mesma me tirou a fundura; sou plana como humana comum que não sabe poetizar. Talvez esse pequeno sofrer de ser rasa ainda me desperte alguns choros pra verbalizar.

[Invento dor pra poder confessar.]