quinta-feira, setembro 22, 2011

✽ Metapoesia


Não consigo me libertar da metapoesia. Toda vez que me ponho frente ao manuscrito e a pena (mentira, frente ao laptop), não me sai nada além do discurso sobre elaborar o discurso.
Acho que é uma questão de coragem. Falta-me heroísmo pra desbravar outros cantos da alma. Fico nessa sina cômoda de só falar de metalinguagem, evito que me abordem com violência os outros ímpetos da criação. Temo a ruptura brusca dessa inércia mansa e boa.

Que diachos! Me dá preguiça confrontar-me, toma tempo e empenho de achar logo o antídoto pra ferida que se abriu por conta da exposição da face. É como ter lentes de ver cada poro da pele. Ninguém quer isso, nem na foto nem na poesia. Às cucuias o confronto, já me cansa bastante vencer as distrações.

Se começo a escrever e me distraio com alguma outra coisa (o que não é difícil quando se escreve no laptop, online), fica à espera no canto da mente a caixa aberta da imaginação. Bem lá na esquina criativa, por entre os quatro lados da caixa vê-se pulando alguns brilhos de ideia querendo vir a se realizar. Saltitam afoitas as sugestões. São como bichinhos com gemidos agudos, saltando por atenção, querendo ser escolhidos pra se tornar matéria. São chatos, por isso que às vezes vencem as distrações.

Agora inventei uma coisa nova. Sento-me pra escrever e enfio plugs de silicone pelo ouvido, nenhum ruído me invade a audição, fico completamente surda. Surda do externo, veja bem. Calo o mundo à volta para ouvir bem a canção que chia no peito uma poesia. É preciso silenciar as distrações pra encontrar o som que vem de dentro. Inventei isso, está funcionando. Uns criam ao som de música, eu crio à mudez tediosa e senil do silêncio, por vezes brandamente invadida pela minha respiração e, por vezes, quando me assanho com as letras, o pulsar do coração. Tu-tum, tu-tum, tu-tum... se ouvir bem, é o ritmo da vida, não tem como algo lhe inspirar mais que as batidas do órgão vital.

Daí já não sei dizer se é mais poética a distração ou a poesia.

Um comentário:

  1. Laura, sempre achei que a inspiração vem de dentro mesmo. Às vezes, as coisas externas atrapalham mesmo. O nosso interior é muito rico! Bjs da tia Marta.

    ResponderExcluir