sexta-feira, setembro 09, 2011

✽ Essa gente, o que faz?

Estou constantemente alimentando os glossários da mente a catalogar nomes e significados das coisas do mundo na cabeça. Não quero que me fuja nenhuma acepção. Isso vem da minha mania de controle (ah! que me importa! vou contar-lhes), que me faz tudo querer mapear e entender. Me dá nos nervos, na verdade, mas por vezes considero-lhe virtude... Na maioridade das ocasiões, do controle socorrem-me as palavras - ou as minhas, ou as de outrem. Pra falar a verdade, ultimamente as dos outros me têm sido mais hospitaleiras. Mas o que importa mesmo é viver da letra.

Não conheço outra maneira de viver senão essa em que se debruça sobre o belo pra lhe trazer pra perto e o possuir pelo discurso. Se existe outro jeito de ser, me diga.
Quero dizer, sei que existem, mas não seria esse o mais retumbante?

Fico pensando... Não entendo essa gente que não escreve ou, sei lá, inventa alguma arte ou arranjo de palavras pra subsistir à existência. Essa gente, o que faz? Quais são seus métodos de expurgação? É nos rascunhos que eu descanso de ser eu.
Pra onde vão seus entulhos e bagaças? Pra onde escorrem as lavas de seu coração vulcânicoª? Ou será que têm coração comum? Explica-me, por favor, essa gente que não se deita sobre indagações, têm viver ralo ou somente um desafeto pelas coisas sensíveis? Bem, eu diria que ter desafeto por qualquer coisa da ordem do sensível é viver empobrecido.

Às vezes fico me perguntando, devo confessar, vivo a me perguntar. E me pergunto tanto, desse tipo de pergunta que só se responde no diâmetro da mente alheia, que quase já não sei mais ser orgânica no agir. Transbordo tanto em lucidez que a sobriedade me faz mal, me constrange o viver social. Perco a teatralidade de cumprir com as convenções do convívio humano, a hiper-reflexão me rouba a naturalidade. Essa coisa de ser existencial.
Esse viver exagerado e intenso nos consome mesmo são as entranhas. É turbilhão, furacão, remoinho bem aqui dentro do estômago vazio. Só não é vazio se eu como a letra.

 É por isso que me pergunto, o que faz essa gente que não vive de letra?



ª"Coração vulcânio", termo usado pela Mallu Magalhães em sua canção "Cena", a qual é tema desse blog que vos fala exibe a página. Mallu é sem dúvida dona de muitas palavras que já me abrigaram e alimentaram.

3 comentários:

  1. Amiga, mesmo longe e com tanto tempo que passou, ao ler suas palavras sinto sua alma bem pertinho, como quando ainda éramos crianças banguelas. Obrigada por dividir este interior tão lindo do qual tanto sinto falta. Beijo, Camila (JK).

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  2. Concordo com você. Viver da letra traz um enriquecimento interior e um desabafo muito grande. Essa gente que não vive de letras, provavelmente sucumbe às suas próprias necessidades. Beijos da tia Marta.

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  3. oi Laura!

    poxa, muito lindo seu blog!! adorei!

    fica aqui meu agradecimento por ver meu trabalho atingir e gerar mais trabalhos como esse...

    parabéns e obrigada pelo carinho!

    tenha certeza que seu trabalho/apoio/carinho irá reverberar em meu trabalho também!

    com carinho,
    mallu

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