Repito, que pra poetizar é preciso não ter medo de rejeição. Tem que dar tudo o que tem, e o que se acha que tem, na folha virgem. Perde-se o orgulho pra dissertar com os punhos.
Não é por orgulho que se adorna o verso, é por amor. E o amor não teme o abandono, ele tudo suporta com brio até que seja retribuído.
A retribuição que espera o poema está em o leitor ter prazer na explosão dos significados, dos frames, das cenas, dos universos que se-lhe abriram no canto da imaginação ao ler a obra. Não tem outra forma de correspondê-lo. Autor e leitor são um no deleitar-se dos signos, não se sabe quando um começa e outro termina. Que me importa sabê-lo, também, se estou convencida de que o texto não veio do escritor tanto quanto não veio do leitor. O texto é entidade externa, à parte dos homens, que o poeta foi e capturou e assinou embaixo. O que separa autor e receptor é que o primeiro seduziu a inspiração primeiro. E você sabe, a inspiração é aquele braço que puxa o belo concreto no vácuo e entrega em mãos ao escritor.
Quase tem inveja do poeta o leitor que lhe leu o bom texto. Queria mesmo era ter escrito aquilo antes de quem o fez, acha que tal composição podia ter-lhe brotado da própria alma. E de tanto querer, até passa a achar que o poema (ou prosa, ou crônica, ou canção) na verdade lhe pertence. E de fato está certo, pois pertencer não é só pro autor - o que ama a poesia também a possui. Diria até que quem a odeia também a possui. A ela dedica tão intenso sentimento, o ódio, que é seu mérito possuí-la também.
É por isso que pra poetizar é preciso não ter medo de rejeição. Até no que a rejeitar fez sentir alguma coisa.
Laura, se eu entendi, você diz que a inspiração do poeta é algo externo.Mas, há também uma busca interna, não?
ResponderExcluirNa minha opinião, a poesia pertence ao poeta porque a criou, e ao leitor que a leu, incorporou e se identificou.
ResponderExcluirAnônimo (não se esqueça de assinar),
ResponderExcluirNão está em questão a veracidade do que escrevi. Essas afirmações são do âmbito da alma, do imaginário, da viagens da pouca lógica do processo criativo.
Numa lente estritamente racional e determinista, por exemplo, é claro que a poesia "é de quem fez". Ninguém no pensar raso da afirmação em si discordaria de você.
Mas essas são alegações poéticas, da ordem da fantasia, onde tudo é possível e está valendo dizer que a poesia se auto-compõe (e autor e leitor são apenas coadjuvantes). No absurdo desse tipo de afirmação está o poético.
Se não está disposto(a) a ler o texto com mais alma e menos mente, não deveria fazê-lo.
Não se concorda ou discorda da prosa poética, o que o poeta escreveu, por seu mérito de arquitetar as palavras, é verdade naquele microcosmo.
Abraço!